O Crime do Padre Amaro - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 52 / 478

Amélia corou; e João Eduardo, fazendo-se vermelho também, curvou-se sarcasticamente:

- Eu digo o que dizem os médicos. E de resto, acredite que não tenho pretensões a casar com pessoa da sua família! Nem mesmo consigo, Sra. D. Josefa!

O cônego deu uma risada muito pesada.

- Arreda! Cruzes! gritou ela, furiosa.

- Mas que faz então a Santa? perguntou o padre Amaro, para pacificar.

- Tudo, senhor pároco, disse a Sra. D. Joaquina Gansoso: está sempre de cama, sabe rezas para tudo; pessoa por quem ela peça tem a graça do Senhor; é a gente apegar-se com ela e cura-se de toda a moléstia. E depois, quando comunga, começa a erguer-se, e fica com o corpo todo no ar, com os olhos erguidos para o Céu, que até chega a fazer terror.

Mas neste momento uma voz disse à porta da sala:

- Ora viva a sociedade! Isto hoje está de truz!

Era um rapaz extremamente alto, amarelo, com as faces cavadas, uma grenha riçada, um bigode a D. Quixote; quando ria tinha uma sombra na boca, porque lhe faltavam quase todos os dentes de diante; e nos seus olhos encovados, de grandes olheiras, errava um sentimentalismo piegas. Trazia uma guitarra na mão.

- Então como vai isso hoje? perguntaram-lhe logo.

- Mal, respondeu ele com voz triste, sentando-se. Sempre as dores no peito, a tossezita.

- Então não se dava bem com o óleo de fígados de bacalhau?

- Qual! fez ele desconsoladamente.

- Uma viagem à Madeira, isso é que era, isso é que era! disse a Sra. D. Joaquina Gansoso com autoridade.

Ele riu, com uma jovialidade súbita:

- Uma viagem à Madeira! Não está má! A D. Joaquina Gansoso tem-nas boas! Um pobre amanuense de administração com dezoito vinténs por dia, mulher e quatro filhos! Para a Madeira!





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