Ela sorriu:
- Ande, que fez ontem desmaiar aquela pobre Juliana - disse.
- Ora! importa-me a mim bem com ela! Estou farto daquele estafermo! Então que quer? Eu cá sou assim. Tanto digo que me não importo com ela, como digo que há uma pessoa por quem dava tudo... Eu sei...
- Quem é? É a Sra. D. Bernarda?
Era uma velha hedionda, viúva de um coronel.
- É, disse ele rindo. É justamente por quem eu ando apaixonado é pela D. Bernarda.
- Ah! o senhor anda apaixonado! disse ela devagar, com os olhos baixos, riscando a areia.
- Diga-me uma coisa, está a mangar comigo? exclamou Agostinho puxando por uma cadeirinha, sentando-se junto dela.
Amélia pôs-se de pé.
- Não quer que eu me sente ao pé de si? perguntou ele ofendido.
- Eu é que estava cansada de estar sentada.
Calaram-se um momento.
- Já tomou banho? disse ela.
- Já.
- Estava frio hoje?
- Estava.
As palavras de Agostinho eram agora muito secas.
- Zangou-se? disse ela docemente, pondo-lhe de leve a mão no ombro. Agostinho ergueu os olhos, e vendo o bonito rosto trigueiro, todo risonho, - exclamou com veemência:
- Estou mesmo doido por si!
- Chut!... disse ela.
A mãe de Amélia, levantando o pano da barraca, saía, muito abafada, de lenço amarrado na cabeça.
- Mais fresquinha, hem? perguntou logo Agostinho, tirando o chapéu de palha.
- Estava por aqui?
- Vim dar uma vista de olhos. E agora toca ao almocinho, hem?
- Se é servido... disse a S. Joaneira.
Agostinho, muito galante, ofereceu o braço à mamã.
E desde então seguia sempre Amélia, de manhã no banho, de tarde à beira-mar; apanhava-lhe conchas; e tinha-lhe feito outros versos - o Sonho. Uma estrofe era violenta:
Senti-te contra o meu peito
Tremer, palpitar, ceder...
Ela murmurava-os com grande comoção, de noite, suspirando, abraçando o travesseiro.