O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 170 / 414

Mas no Largo de Camões reparou que o sujeito de pêra comprida, o do Passeio, a vinha seguindo, com uma obstinação de galo; tomou logo um cupê. E ao descer o Chiado, sentia uma sensação deliciosa em ser assim levada rapidamente para o seu amante, e mesmo olhava com certo desdém os que passavam,

no movimento da vida trivial - enquanto ela ia para uma hora tão romanesca da vida amorosa! Todavia à maneira que se aproximava vinha-lhe uma timidez, uma contração de acanhamento, como um plebeu que tem de subir, entre alabardeiros solenes, a escadaria de um palácio. Imaginava Basílio esperando-a estendido num divã de seda; e quase receava que a sua simplicidade burguesa, pouco experiente, não achasse palavras bastante finas ou carícias bastante exaltadas. Ele devia ter conhecido mulheres tão belas, tão ricas, tão educadas no amor! Desejava chegar num cupê seu, com rendas de centos de mil réis, e ditos tão espirituosos como um livro...

A carruagem parou ao pé de uma casa amarelada, com uma portinha pequena. Logo à entrada um cheiro mole e salobre enojou-a. A escada, de degraus gastos, subia ingrememente, apertada entre paredes onde a cal caía, e a umidade fizera nódoas. No patamar da sobreloja, uma janela com um gradeadozinho de arame, parda do pó acumulado, coberta de teias de aranha, coava a luz suja do saguão. E por trás de uma portinha, ao lado, sentia-se o ranger de um berço, o chorar doloroso de uma criança.

Mas Basílio desceu logo, com o charuto na boca, dizendo baixo:

- Tão tarde! Sobe! Pensei que não vinhas. O que foi?

A escada era tão esguia, que não podiam subir juntos. E Basílio, caminhando adiante, de esguelha:

- Estou aqui desde a uma hora, filha! Imaginei que te tinhas esquecido da rua...

Empurrou uma cancela, fê-la entrar num quarto pequeno, forrado de papel às listras azuis e brancas.





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