Joana era decerto espessa e obtusa; além disso a paixão animal pelo rapazola emparvecia-a. Todavia, percebera que a Sra. Juliana andava muito derretida pela senhora; disse-lho mesmo um dia:
- Vossemecê agora, Sra Juliana, parece mais na bola da senhora!
- Na bola?
- Sim, quero dizer, mais aquela, mais...
- Mais apegada à senhora?
- Mais apegada.
- Sempre o estive. Mas então! Às vezes a gente tem os seus repentes... Que olhe, Sra Joana, não se acha melhor que aqui. Senhora de muito bom génio, nada se esquisitices, nenhumas prisões... Ai, é dar louvores ao céu de estarmos neste descanso.
- E é!
A casa com efeito tinha um aspecto jovial de felicidade tranquila: Luísa saía todos os dias e achava tudo bom; nunca se impacientava; a sua antipatia por Juliana parecia dissipada; considerava-a uma pobre de Cristo! Juliana tomava os seus caldinhos, dava os seus passeios, ruminava. Joana, muito livre, muito só em casa, regalava-se com o carpinteiro. Não vinham visitas. D. Felicidade, na Encarnação, inundava-se de arnica. Sebastião fora para a Almada vigiar as obras. O Conselheiro partira para Sintra, "dar umas férias ao espírito", tinha ele dito a Luísa, e deliciar-se nas maravilhas daquele Éden. O Sr. Julião, "o doutor", como dizia a Joana, trabalhava a sua tese. As horas eram muito regulares; havia sempre um silêncio pacato. Juliana, um dia, na cozinha, impressionada por aquele recolhimento satisfeito de toda a casa, exclamou para Joana:
- Não se pode estar melhor! A barca vai num mar de rosas!
E acrescentou, com uma risadinha:
- E eu ao leme!