O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 215 / 414

..

- Está mais descansada, minha senhora - veio dizer a Joana - diz que logo que se levanta. Então a senhora não come mais nada? Credo!

- Não.

E entrou para o quarto, pensando: - "De que serve estar a imaginar coisas? Só me resta fugir...

Decidiu-se logo a escrever a Sebastião; mas não pode acertar com outras palavras além do começo, no alto, numa letra muito trémula: "Meu amigo!"

Para que havia de escrever? Quando ao outro dia ela não voltasse, nem à tarde, nem à noite - as criadas, a outra, a infame! iriam logo a Sebastião. Era o íntimo da casa. Que espanto o dele! Imaginaria algum acidente, correria à Encarnação, depois à polícia, esperaria numa angústia até de madrugada! Todo o dia seguinte seriam outras esperanças de a ver chegar, decepções aterradas até que telegrafaria a Jorge! E a essa hora decerto, ela, encolhida no canto do vagão, rolaria, ao ruído ofegante da máquina, para um destino novo!...

Mas por que se afligia, por fim? Quantas invejariam a sua desgraça! O que havia de infeliz em abandonar a sua vida estreita entre quatro paredes, passada a examinar róis de cozinha e a fazer croché, e partir com um homem novo e amado, ir para Paris! Para Paris! Viver nas consolações do luxo, em alcovas de seda, com um camarote na Ópera!... Era bem tola em se afligir! Quase fora uma felicidade aquele "desastre"! Sem ele nunca teria tido a coragem de se desembaraçar da sua vida burguesa; mesmo quando um alto desejo a impelisse, haveria sempre uma timidez maior para a reter!

E depois, fugindo, o seu amor tornava-se digno! Seria só de um homem; não teria de amar em casa e amar fora de casa!

Veio-lhe mesmo a idéia de ir ter imediatamente com Basílio, acabar com aquilo por uma vez. Mas era tarde para ir ao hotel; temia as ruas escuras, a noite, e os bêbedos.





Os capítulos deste livro