Anson tinha uma chave. Uma vez lá dentro serviu bebidas para ambos - Dolly não tocou na' dela - certificou-se definitivamente da localização do telefone, e achou que estava a boa distância para se ouvir nos quartos, ambos no primeiro andar.
Cinco minutos depois ele bateu à porta do quarto de Dolly.
- Anson? - Entrou, fechando a porta atrás de si. Ela estava na cama, ansiosamente apoiada com os cotovelos na almofada.
- Anson, meu querido. Ele não respondeu.
- Anson... Anson! Amo-te... Diz que me amas. Diz agora. Não és capaz de dizer agora? Mesmo que não seja verdade?
Ele não ouvia. Por sobre a cabeça dela viu que o retrato de Paula estava ali pendurado naquela parede.
Levantou-se e aproximou-se dele. A moldura brilhava reflectindo o luar; lá dentro estava a sombra confusa de um rosto que ele não conhecia. Quase soluçando, voltou-se e olhou com aversão para o pequeno vulto deitado na cama.
- Tudo isto é um disparate - disse com voz empastada. - Não sei em que estava a pensar. Não te amo e fazias melhor em esperar por alguém que te ame. Não te amo nem um bocadinho, não és capaz de entender?
A voz quebrou-se-lhe e ele saiu apressadamente.
De novo no salão, estava a servir-se de uma bebida com dedos inseguros, quando a porta da frente se abriu de repente e a prima entrou.
- Olha, Anson, parece que a Dolly não está bem - começou solícita. - Parece que está doente.
- Não foi nada - interrompeu ele levantando a voz de maneira que chegasse ao quarto de Dolly. Estava um pouco cansada. Foi para a cama.
Depois, durante muito tempo, Anson acreditou que um Deus protector interfere por vezes nas coisas humanas. Mas Dolly Krager, deitada na cama, acordada e olhando para o tecto, nunca mais acreditou fosse no que fosse.