A Década Perdida - Cap. 4: A ABSOLVIÇÃO Pág. 157 / 182

O medo assumia uma forma sólida e queria instalar-se entre o seu coração e os seus pulmões. Agora tinha de tentar com toda a força arrepender-se dos seus pecados, não porque tinha medo, mas porque ofendera a Deus. Tinha de convencer Deus de que estava arrependido e para isso tinha de se convencer primeiro a si próprio. Depois de uma tensa luta emocional conseguia arranjar uma auto compaixão vacilante e decidiu que já estava preparado. Se, não deixando que nenhum outro pensamento lhe entrasse na cabeça, pudesse conservar aquele estado de emoção intacto até se meter no grande caixão ao fundo, teria sobrevivido a outra crise da sua vida religiosa.

Porém, durante certo tempo, uma ideia demoníaca tinha-se apoderado dele parcialmente. Podia ir para casa antes que chegasse a sua vez e dizer à mãe que chegara tarde demais e que o padre já se tinha ido embora. Isto, infelizmente, envolvia o risco de ser apanhado numa mentira. Como alternativa podia dizer que fora à confissão, mas isto significava que teria de não ir à comunhão no dia seguinte, pois que a comunhão numa alma suja transformar-se-ia em veneno na sua boca, e viria do altar coxo e amaldiçoado.

De novo a voz do Padre Schwartz se fez ouvir.

- E para ti...

As palavras misturaram-se num resmungar rouco, e Rudolph pôs-se de pé excitado. Sentiu que era impossível ir à confissão nessa tarde. Hesitou, tenso. E então veio do confessionário uma pancada, um ranger e um roçagar persistente. O varão caíra e a cortina de pelúcia tremia. A tentação chegara-lhe tarde demais...

- Abençoe-me, Padre, porque pequei... Confesso a Deus Todo Poderoso e a vós, Padre, que pequei... Desde a minha última confissão já passou um mês e três dias... Acuso-me de ter invocado o Nome do Senhor em vão.





Os capítulos deste livro