A Década Perdida - Cap. 4: A ABSOLVIÇÃO Pág. 158 / 182

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Este era um pecado fácil. As suas pragas não tinham passado de fanfarronadas; contá-las era menos do que isso.

- ...de ser mau para uma velhinha.

A sombra negra mexeu-se um pouco para lá da grade de tabuinhas.

- Então como, meu filho?

- Foi com a Lady Swenson. - O murmúrio de Rudolph elevou-se jubiloso. - Ela ficou com a nossa bola que lhe atirámos à janela e não a quis dar, por isso pusemo-nos a cantar toda a tarde «Vinte e três, pirar», e às cinco horas ela teve um ataque e mandaram chamar o médico.

- Continua, meu filho.

- ... De... de não acreditar que sou filho dos meus pais.

- O quê? - A interrogação era claramente de espanto.

- De não acreditar que sou filho dos meus pais.

- Porque não havias de ser?

- Ora, só por orgulho - respondeu o penitente com desenvoltura.

- Queres dizer que te achas bom demais para seres filho dos teus pais?

- Sim, Padre. - Numa voz menos jubilosa.

- Continua.

- De ser desobediente e de chamar nomes à minha mãe. De caluniar as pessoas nas costas delas. De fumar...

Rudolph já tinha esgotado as ofensas menores e aproximava-se dos pecados que eram horríveis de dizer. Pôs os dedos contra a cara como barras, para deixar sair por entre eles a vergonha do seu coração.

- De palavrões e maus pensamentos e desejos segredava baixinho.

- Quantas vezes?

- Não sei.

- Uma vez por semana? Duas vezes por semana?

- Duas vezes por semana.

- Cedeste a esses desejos?

- Não, Padre.

- Estavas sozinho quando os tiveste?

- Não, Padre. Estava com dois rapazes e uma rapariga.

- Não sabes, meu filho, que deves evitar as ocasiões para pecar tanto como o próprio pecado? As más companhias levam aos maus desejos e os maus desejos às más acções.





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