A Década Perdida - Cap. 5: TRÊS HORAS ENTRE DOIS AVIÕES Pág. 178 / 182

- Não interessa. Posso perdê-lo. Não tem importância.

- Por favor, vai - disse ela com voz fria. - E por favor tenta imaginar como me sinto.

- Mas estás a agir como se não te lembrasses de mim - gritou ele. - Como se não te lembrasses do Donald Plant!

- Lembro-me. Também me lembro de ti... mas foi tudo há tanto tempo. - A voz dela tornou-se mais dura. - O número dos táxis é Crestwood 8484.

No caminho para o aeroporto Donald abanava a cabeça de um lado para o outro. Estava de novo em si mas não conseguia digerir a experiência. Só quando o avião rugiu em direcção ao céu negro, e os passageiros se transformaram numa entidade diferente do mundo organizado lá em baixo, é que ele estabeleceu um paralelo a partir da realidade do seu voo. Durante cinco minutos estonteantes vivera como um louco, em dois mundos ao mesmo tempo. Tinha sido um garoto de doze anos e um homem de trinta e um, indissolúvel e irremediavelmente ligados.

Donald perdera muito, também, naquelas horas entre dois aviões; mas como a segunda metade da vida é um longo processo de nos desfazermos das coisas, aquela parte da experiência não tinha provavelmente importância.





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