A Década Perdida - Cap. 1: O PRIMEIRO DE MAIO Pág. 43 / 182

- São pessoas - disse Bartholomew e um instante depois: - Urna quantidade delas. Vêm da Sexta Avenida.

- Pessoas.

O homem gordo esborrachou o nariz contra a vidraça.

- São soldados, santo Deus! - disse enfaticamente. - Eu bem tinha cá a impressão de que haviam de voltar.

Edith pôs-se em pé num salto e foi a correr juntar-se a Bartholomew à janela.

- São imensos! - gritou excitada. - Anda cá, Henry!

Henry compôs a pala mas ficou sentado.

- Será melhor apagarmos as luzes? - sugeriu Bartholomew.

- Não. Daqui a um instante vão-se embora.

- Não vão, não - disse Edith espreitando pela janela. - Nem sequer isso lhes passa pela cabeça. E estão a chegar mais. Olhem, ali vem uma multidão a virar a esquina da Sexta Avenida.

Ao brilho amarelo com sombras azuis do candeeiro da rua, pôde ver que o passeio estava apinhado de homens. A maioria usava uniforme, alguns estavam sóbrios, outros entusiasticamente bêbedos, e sobre todos pairava um clamor e urna gritaria incoerentes.

Henry levantou-se e, assomando à janela, deixou-se contemplar corno urna silhueta alongada contra as luzes da redacção. Imediatamente a gritaria se transformou num brado uniforme, e urna fuzilaria barulhenta de pequenos mísseis, maços de tabaco, tabaco de mascar, caixas de cigarros e até pequenas moedas, bateu contra a janela. O som da algazarra começava agora a subir pela escada acima, enquanto as portas giratórias rodopiavam.

- Vêm a subir! - gritou Bartholomew.

Edith voltou-se para Henry, inquieta. - Vêm a subir, Henry.

De baixo, do vestíbulo, os gritos ouviam-se agora perfeitamente.

- Malditos socialistas!

- Germanófilos! Bo1chevistas!

- Segundo andar, frente! Venham daí!

- Vamo-nos aos filhos da...

Os cinco minutos que se seguiram passaram como um sonho.





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