A Década Perdida - Cap. 1: O PRIMEIRO DE MAIO Pág. 45 / 182

Vindo não se sabe donde, um vulto passou por ela cambaleando, esgueirou-se de lado e de repente desapareceu pela janela aberta com um grito fragmentado de terror que foi morrer no seio da algazarra. À luz difusa vinda do edifício das traseiras, Edith teve a súbita impressão de que tinha sido o soldado alto de queixo magro.

Surpreendentemente, a raiva invadiu-a. Agitou os braços descontroladamente e meteu-se às cegas pelo grosso do tumulto. Ouvia grunhidos, pragas, o impacte abafado de murros.

- Henry! - chamou freneticamente. - Henry!

E então, uns minutos depois, sentiu subitamente que havia outras pessoas na sala. Ouviu uma voz, profunda, arrogante, autoritária; viu feixes de luz amarela brilhando por entre a barafunda. Os gritos tornaram-se mais espaçados. O tumulto aumentou e depois parou.

Repentinamente as luzes acenderam-se e a sala estava cheia de polícias, dando bastonadas à esquerda e à direita. A voz profunda rugiu:

- Vamos lá, vamos lá, vamos lá! E depois:

- Quietos e desapareçam! Vamos lá!

A sala pareceu esvaziar-se como um lavatório.

Um polícia, num canto, soltou o soldado que dominava e empurrou-o para a porta. A voz profunda continuava. Edith apercebeu-se então de que ela vinha de um capitão da polícia com pescoço de touro, perto da porta.

- Vamos lá! Isto não são processos! Um dos vossos soldados foi empurrado pela janela de trás e matou-se!

- Henry! - chamava Edith. - Henry!

Bateu descontroladamente com os punhos nas costas do homem que estava à frente dela; roçou por outros dois; lutou, gritou e abriu caminho para uma figura muito pálida sentada no chão junto de uma secretária.

- Henry - disse ela arrebatadamente -, o que é que tens? O que é que tens? Feriram-te?

Os olhos dele estavam fechados.





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