Crepúsculo dos Ídolos - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 18 / 106

5.

- Vejamos em contraposição de que modo diverso nós (- digo nós por cortesia...) consideramos o problema do erro e da aparência. Outrora tomava-se a transformação, a mudança, o vir-a-ser em geral como prova da aparência, como um sinal de que algo tinha se apresentado que necessariamente nos conduzia ao erro. Hoje, ao contrário, vemos até que ponto o fato de o preconceito da razão nos obrigar a fixar a unidade, a identidade, a duração, a substância, a causa, a coisidade, o Ser, nos enreda de certa maneira no erro, nos leva necessariamente ao erro. Assim, estamos certos de que, sobre a base de uma verificação rigorosa junto a nós mesmos quanto a esse ponto, o erro está aí. O que se passa aqui, portanto, não é diverso do que acontece com os movimentos dos grandes astros: no que concerte a eles, os nossos olhos são os advogados contínuos do erro; no que concerne ao preconceito da razão, é nossa linguagem. Segundo seu aparecimento, a linguagem pertence ao tempo da forma mais rudimentar de psicologia. Inserimo-nos em um fetichismo grosseiro quando trazemos à consciência os pressupostos fundamentais da linguagem metafísica: ou, em alemão, da razão. Esse fetichismo vê por toda parte agentes e ações; ele crê na vontade enquanto causa em geral; ele crê no "Eu", no Eu enquanto Ser, no Eu enquanto Substância, e projeta essa crença no Eu-substância para todas as coisas. - Só a partir daí a consciência cria então o conceito "coisa"... Por toda parte, o Ser é introduzido através do pensamento, imputado como causa. Somente a partir da concepção do "Eu" segue, enquanto derivado, o conceito "Ser"... No começo encontra-se a grande imposição do erro: a assunção de que a vontade é algo que atua - de que a vontade é uma faculdade... Hoje sabemos que ela é meramente uma palavra...





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