Crepúsculo dos Ídolos - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 47 / 106

3.

- Falei do espírito alemão: que ele vem se tornando mais rude, que ele vem se aplanando. Isto é suficiente? - No fundo, o que me espanta é uma coisa totalmente diversa. Como a seriedade alemã, a profundidade alemã, a paixão alemã pelas coisas do espírito vai declinando sempre mais . O pathos transformou-se, não apenas a intelectualidade. - Eu refiro-me aqui e acolá às universidades alemães: que atmosfera reina entre seus eruditos, que deserto, que espiritualidade tornada sóbria e tépida! Seria um mal-entendido profundo, além de uma prova de que não se leu nenhuma palavra do que escrevi, se se quisesse me objetar aqui através da menção à ciência alemã. Há dezassete anos não me canso de lançar luz sobre a influência desespiritualizadora de nossos impulsos científicos atuais. O duro hilotismo, à qual a monstruosa extensão da ciência condena hoje todos os indivíduos, é um dos fundamentos principais para o fato de as naturezas mais plenas, mais ricas, mais profundamente constituídas não encontrarem mais nenhuma educação e nenhum educador que lhes seja adequado. Nossa cultura não padece em nada mais do que em uma superabundância de serviçais pretensiosos e humanidades fragmentárias. Nossas universidades são, contra a sua vontade, as próprias estufas para esse tipo de estorvamento dos instintos do espírito. E toda a Europa já tem um conceito disto - a grande política não ilude ninguém... A Alemanha vige cada vez mais como a planície da Europa. - Ainda busco um alemão, com o qual pudesse ser sério à minha maneira - e tanto mais procuro por um com o qual tivesse o direito de permanecer sereno! Crepúsculo dos ídolos: ah! quem é capaz de conceber hoje de que tipo de seriedade um eremita se restabelece aqui! - A serenidade é em nós o mais incompreensível...





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