Nas paredes encardidas, refrões revolucionários - «Viva POUM!» ou «Viva la Revolucióne», e outros - foram garatujados. O lugar era utilizado como depósito de presos políticos por meses seguidos, e o vozerio era ensurdecedor. Estávamos na hora das visitas, e era tanta gente a acotovelar-se, que se tornava difícil andar. Quase todos os presentes eram da parte mais pobre da população trabalhadora. Víamos mulheres abrindo minúsculos embrulhos de comida que traziam, e encontramos diversos feridos que estiveram internados no Sanatório Maurln, entre os prisioneiros. Dois deles amputaram a perna, e um fora trazido sem a muleta, de modo que pulava por ali na perna que lhe restava. Vimos também um menino que não devia ter mais de doze anos, fazendo pensar que estavam também prendendo crianças. O lugar tresandava àquele fedor animalesco que sempre se forma quando muita gente é amontoada num só lugar, sem que se tomem as medidas sanitárias adequadas.
Kopp abriu caminho no meio daquele povo para vir encontrar-se connosco. Seu rosto gordo e corado parecia o de sempre, e naquele lugar imundo ele conseguira manter limpo o uniforme e até barbear-se. Havia outro oficial com uniforme do Exército Popular entre os prisioneiros, e ao passarem um pelo outro ele e Kopp trocaram continência, num gesto que de algum modo foi bastante patético. Kopp parecia bastante animado.
- Bem, suponho que vamos ser todos fuzilados! - comentou cheio de graça.
Eu, no entanto, senti um estremecimento involuntário. Uma bala entrara em meu próprio corpo, antes, e a sensação ainda estava fresca em minha lembrança, não sendo agradável pensar em coisa idêntica acontecendo com quem conhecemos bem. Naquela época eu achava natural que todos os elementos principais no POUM, e Kopp entre eles, seriam realmente fuzilados. O primeiro boato sobre a morte de Nin já se infiltrara, e sabíamos que o POUM era acusado de traição e espionagem. Tudo indicava um grande julgamento forjado, seguido pelo massacre dos "trotskistas" principais. É terrível ver um amigo na prisão, e estar-se impotente para ajudá-lo, pois nada havia que pudéssemos fazer. Era inútil apelar até mesmo para as autoridades belgas, pois Kopp transgredira a lei de seu país. Eu tinha de deixar a conversa quase toda para minha mulher, pois com a voz pouco além de um guincho não conseguiria ser entendido naquela zoada. Kopp estava falando sobre os amigos que fizera entre os demais presos, sobre os guardas, alguns dos quais eram bons sujeitos e outros que abusavam e surravam os prisioneiros mais tímidos, e também sobre a comida, que era "lavagem de porcos".