Homenagem à Catalunha - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 177 / 193

Em meio a todas as denúncias feitas contra o Tratado de Versalhes naqueles anos, não creio ter uma só vez ouvido a pergunta de quem se interessasse em saber o que teria acontecido se a Alemanha ganhasse a guerra, e muito menos vi o assunto ser debatido. O mesmo ocorre com as atrocidades. A verdade, ao que se percebe, torna-se inverdade quando pronunciada pelo inimigo. Recentemente observei que as mesmas pessoas que engoliam qualquer narrativa de horror a respeito dos japoneses em Nanquim, em 1937, recusavam-se a acreditar nas mesmíssimas histórias referentes a Hong Kong, em 1942. Havia até a tendência a achar que as atrocidades de Nanquim tinham-se tornado, por assim dizer, retroativamente inverídicas, porque o Governo britânico estava agora chamando atenção para elas.

A verdade sobre atrocidades, no entanto, mostra-se desgraçadamente muito pior do que quando ocorre ao mentir-se a seu respeito, e ao serem transformadas em propaganda. A verdade é que elas ocorrem. O fato muitas vezes aduzido como razão para ceticismo - o de que as mesmas histórias de horror aparecem em guerra após guerra - simplesmente torna mais provável que elas sejam verdadeiras. É evidente que constituam fantasias generalizadas, e a guerra proporciona a oportunidade para serem postas em prática. Do mesmo modo, embora tenha deixado de estar na moda o dizer isso, resta pouca dúvida de que os que podemos a grosso modo chamar de "brancos" cometam atrocidades muito maiores e piores do que os "vermelhos". Não resta a menor dúvida, por exemplo, sobre o comportamento dos japoneses na China. Tampouco resta grande dúvida a respeito da longa lista de afrontas fascistas nos últimos dez anos, no continente europeu. O volume de testemunhos prestados mostra-se enorme, e respeitável proporção dos mesmos vem da imprensa e rádio alemães. Essas coisas realmente acontecem, e é o que precisamos fixar de modo bem claro. Aconteceram até mesmo quando Lord Halifax disse que eram verdade. A violação de mulheres e carnificina nas cidades chinesas, as torturas nos porões da Gestapo, os idosos professores judeus atirados em sentinas, o metralhamento de refugiados nas estradas espanholas - tudo isso ocorreu, e não ocorreu com menor intensidade apenas porque o Daily Telegraph tenha, repentinamente, descoberto isso, com cinco anos de atraso.





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