Homenagem à Catalunha - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 64 / 193

Os dias tornavam-se mais quentes e até as noites passavam a ser toleráveis, em matéria de temperatura. Numa árvore escalavrada por balas, à frente de nosso parapeito, formavam-se punhados cerrados de cerejas. Tomar banho no rio deixou de ser uma tortura e passou a ser quase prazer. Rosas silvestres, com botões roxos do tamanho de um pires, estendiam-se pelas crateras abertas por granadas ao redor da Torre Fabián. Por trás da linha encontrávamos camponeses, que punham rosas silvestres nas orelhas, e à noite costumavam sair com redes verdes, à caça de codornas. Estendiam as redes sobre as pontas mais altas da vegetação rasteira, e depois disso era abaixar e imitar o canto de uma codorna fêmea. Qualquer macho que estivesse por perto acudia correndo naquela direção, e quando se colocasse por baixo da rede jogava-se uma pedra, o que lhe proporcionava tremendo susto e o fazia dar um pulo para cima, ficando preso nas malhas. O processo, pelo que parecia, só servia para capturar codornas machos, o que se me afigurava grande injustiça.

Tínhamos agora uma seção de andaluzes a nosso lado na linha de frente. Não sei como chegaram até ali, e a explicação corrente era de que foram obrigados a fugir de Málaga com tanta pressa que se tinham esquecido de parar em Valência, mas tal afirmação vinha dos cataláos, naturalmente, e estes são gente que costumava encarar os andaluzes como raça de semi-selvagens. Não há dúvida de que eram muito ignorantes, e poucos entre eles sabiam ler, e nem sequer demonstravam saber o que todos sabem na Espanha - a que partido político se pertence. Achavam ser anarquistas, mas não tinham certeza disso; talvez fossem comunistas. Era gente áspera e rústica, pastores ou trabalhadores dos olivais, talvez, com rostos muito tisnados pelo sol bravo das regiões mais meridionais. Eram-nos muito úteis, pois apresentavam uma extraordinária destreza para enrolar o fumo seco espanhol, fazendo assim os cigarros. Cessara a distribuição de cigarros feitos, mas em Monflorite era possível obter de vez em quando alguns pacotes do tipo mais barato de fumo, (que na aparência e tato parecia-se muitíssimo a palha picada. Seu sabor não era mau, mas tamanha sua secura que quando se conseguia enrolar um cigarro o fumo logo caía e deixava na mão de quem o enrolara apenas o cilindro vazio de papel. Os andaluzes, no entanto, sabiam enrolar cigarros admiravelmente e conheciam uma técnica toda especial de socar o fumo nas pontas, para não cair dali.





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