Homenagem à Catalunha - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 98 / 193

Os Guardas Civis ainda mantinham o Café Moka e não haviam desmanchado suas barricadas, mas alguns traziam cadeiras para a rua e sentavam-se ali com os fuzis no colo. Pisquei para um deles ao passar, e recebi em troca um sorriso que não era hostil - ele me reconhecera, naturalmente. Por cima do Centro Telefônico a bandeira anarquista fora arriada e se via apenas a catalã. Isso significava que os trabalhadores foram definitivamente batidos e compreendi - embora não tão claramente quanto deveria ter feito, devido à minha ignorância política - que quando o Governo se achasse mais seguro, haveria represálias. Mas naquela ocasião não me interessava por esse aspecto das coisas. Tudo quanto sentia era o alivio profundo de saber que terminara aquela tortura infernal dos disparos, que se podia comprar alguma comida e descansar um pouco em paz antes de voltar à linha de frente.

Deve ter sido bem tarde naquela noite que os soldados vindos de Valência fizeram seu primeiro aparecimento nas ruas. Eram os Guardas de Assalto, outra corporação semelhante à dos Guardas Civis e Carabineiros (isto é, corporação destinada primordialmente ao trabalho policial) e os soldados de elite da República. De maneira bem repentina, pareceram brotar no chão, e eram vistos por toda a parte, patrulhando as ruas em grupos de dez - homens altos com uniformes cinzentos ou azuis, fuzis compridos a tiracolo e uma submetralhadora em cada grupo. Enquanto isso, restava-nos uma tarefa delicada a executar. Os seis fuzis que usamos para guardar o observatório ainda estavam lá, e era preciso trazê-los de qualquer maneira para o edifício do P.O.U.M. Tratava-se apenas de como atravessar a rua com eles. Faziam parte do arsenal do edifício, mas levá-los para a rua era transgredir a ordem do Governo, e se fôssemos apanhados certamente seríamos presos - e pior ainda, os fuzis seriam confiscados. Tendo apenas vinte e seis no edifício, não podíamos ficar sem eles. Depois de muita discussão quanto ao melhor meio de solucionar o problema, um rapaz ruivo espanhol, e eu próprio, começamos a atravessá-los. Foi bastante fácil evitar as patrulhas dos Guardas de Assalto; o perigo era que os Guardas Civis no Café Moka, sabedores que tínhamos fuzis no observatório, poderiam denunciar-nos se nos vissem carregando-os para o outro lado.





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