Deve ter sido bem tarde naquela noite que os soldados vindos de Valência fizeram seu primeiro aparecimento nas ruas. Eram os Guardas de Assalto, outra corporação semelhante à dos Guardas Civis e Carabineiros (isto é, corporação destinada primordialmente ao trabalho policial) e os soldados de elite da República. De maneira bem repentina, pareceram brotar no chão, e eram vistos por toda a parte, patrulhando as ruas em grupos de dez - homens altos com uniformes cinzentos ou azuis, fuzis compridos a tiracolo e uma submetralhadora em cada grupo. Enquanto isso, restava-nos uma tarefa delicada a executar. Os seis fuzis que usamos para guardar o observatório ainda estavam lá, e era preciso trazê-los de qualquer maneira para o edifício do P.O.U.M. Tratava-se apenas de como atravessar a rua com eles. Faziam parte do arsenal do edifício, mas levá-los para a rua era transgredir a ordem do Governo, e se fôssemos apanhados certamente seríamos presos - e pior ainda, os fuzis seriam confiscados. Tendo apenas vinte e seis no edifício, não podíamos ficar sem eles. Depois de muita discussão quanto ao melhor meio de solucionar o problema, um rapaz ruivo espanhol, e eu próprio, começamos a atravessá-los. Foi bastante fácil evitar as patrulhas dos Guardas de Assalto; o perigo era que os Guardas Civis no Café Moka, sabedores que tínhamos fuzis no observatório, poderiam denunciar-nos se nos vissem carregando-os para o outro lado.