Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 13 / 273

Eles cheiravam a ar e a chuva e a terra e a tecido de algodão. Mas eram uns santos camponeses. Sentia a sua respiração na nuca e ouvia-os suspirar enquanto oravam. Viviam em Clane, dissera um dos rapazes; havia aí um aglomerado de pequenas casas e ele tinha visto uma mulher de pé, à porta de uma delas, com uma criança nos braços, quando lá passara de carro, vindo de Sallins. Devia ser agradável passar uma noite nessa casinha, dormindo diante da lareira de turfa fumegante, na escuridão iluminada pelo fogo, na escuridão quente, respirando o cheiro dos camponeses, a ar e a chuva e a terra e a tecido de algodão. Mas, como era escura a estrada que passava entre as árvores! Uma pessoa podia perder-se na escuridão. Sentiu medo ao pensar nisso.

Ouviu a voz do prefeito da capela, a dizer a última oração. Recitou-a também, para se proteger da escuridão lá fora, entre as árvores.

Visitai, nós Vos rogamos, Senhor, esta casa e afastai dela todas as ciladas do inimigo. Que os Vossos santos anjos nela habitem, para nos conservar em paz e que as Vossas bênçãos caiam sobre nós por intermédio de Cristo, nosso Senhor. Ámen.

Os seus dedos tremiam, ao despir-se no dormitório. Disse aos seus dedos que se apressassem. Tinha de se despir e depois ajoelhar e fazer as suas próprias orações e meter-se na cama antes que o gás baixasse, para não ir para o Inferno quando morresse. Tirou as meias, enrolando-as e enfiou rapidamente a camisa de dormir, ajoelhando-se, a tremer, junto da cama, e recitou rapidamente as suas orações, cheio de medo de que baixassem o gás. Sentia os ombros a tremer enquanto murmurava:

Deus abençoe o meu pai e a minha mãe e mos conserve! Deus abençoe os meus irmãozinhos e mos conserve! Deus abençoe a Dante e o tio Charles e mos conserve!

Benzeu-se e trepou rapidamente para a cama e, enrolando os pés na falda da camisa, enroscou-se por baixo dos lençóis brancos enrolados, tiritando.





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