Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 4: IV Pág. 164 / 273

- Emendei a minha vida, não emendei? - perguntava a si próprio.

O director estava de pé, no vão da janela, de costas para a luz, apoiando um cotovelo na persiana castanha, sorrindo enquanto falava, puxando e enrolando lentamente o cordão da outra persiana, e Stephen encontrava-se diante dele, seguindo, por um momento, com os olhos, o declinar da claridade do longo dia de Verão sobre os telhados ou os movimentos lentos e hábeis dos dedos do padre. O rosto do sacerdote encontrava-se na sombra, mas a luz declinante por trás dele tocava-lhe as têmporas fortemente enrugadas e as curvaturas do crânio. Stephen seguia também com os ouvidos as entoações e pausas da voz do padre, enquanto este falava séria e cordialmente de diversos temas, as férias que acabavam de terminar, os colégios da ordem no estrangeiro, a transferência de professores. A voz grave e cordial continuou a dissertar fluentemente e, durante as pausas, Stephen sentia que devia fazê-la continuar, por meio de perguntas respeitosas. Sabia que a dissertação era um prelúdio e a sua mente aguardava a sua sequência. Desde que recebera a convocação para se apresentar ao director, a sua mente esforçava-se por descobrir o significado dessa mensagem; e, durante o longo período de impaciência em que aguardara, no parlatório do colégio, a chegada do director, os seus olhos tinham percorrido os sóbrios quadros em volta das paredes enquanto a sua mente vagueava de uma resposta para outra, até o significado da convocação se lhe tornar quase evidente. Depois, quando já desejava que algum motivo imprevisto impedisse o director de vir, tinha ouvido a maçaneta da porta rodar e o roçagar de uma sotaina.

O director tinha começado por falar das ordens dominicana e franciscana e da amizade entre São Tomás e São Boaventura.





Os capítulos deste livro