Muitas vezes, depois de ter confessado as suas dúvidas e escrúpulos - alguma desatenção momentânea durante as orações, um movimento trivial de cólera na sua alma, ou uma subtil obstinação nas palavras e nos actos -, o seu confessor pedia-lhe que referisse qualquer pecado da sua vida passada, antes de lhe dar a absolvição. Mencionava-o com humildade e vergonha, e arrependia-se novamente dele. Humilhava-o e envergonhava-o pensar que nunca se livraria completamente daquilo, por muito santamente que vivesse e independentemente das virtudes ou perfeições que conseguisse alcançar. Nele estaria sempre presente um incansável sentimento de culpa: confessar-se-ia e arrepender-se-ia e seria absolvido, voltaria a confessar-se, a arrepender-se e a ser absolvido, sempre em vão. Aquela primeira confissão apressada, que lhe fora arrancada pelo receio do Inferno, não teria sido suficientemente boa? Preocupado apenas pela sua iminente perdição, não se teria arrependido sinceramente do seu pecado? Mas o sinal mais seguro de que a sua confissão tinha valido e de que ele se arrependera sinceramente do seu pecado era, sabia-o bem, o facto de ter emendado a sua vida.