O rosto de Stephen reflectiu o sorriso indulgente do padre e, não se sentindo ansioso por manifestar a sua opinião, fez um movimento levemente duvidoso com os lábios.
- Creio - prosseguiu o director - que se fala entre os próprios capuchinhos de se livrarem dele e seguirem o exemplo dos outros franciscanos.
- Suponho que o conservariam, nos mosteiros - observou Stephen.
- Oh, por certo - disse o director. - Para o mosteiro, serve perfeitamente, mas, para a rua, parece-me melhor livrarem-se dele, não lhe parece?
- Deve ser incómodo, acho eu.
- É claro que é, naturalmente. Imagine que, quando estive na Bélgica, vi-os andar de bicicleta, fosse qual fosse o tempo, com aquela coisa subida até aos joelhos! Era realmente ridículo. Les jupes, I chamam-lhes, na Bélgica.
Pronunciou a vogal de forma tão alterada que se tornou incompreensível.
- Como é que lhes chamam?
- Les jupes.
- Oh!
Stephen sorriu de novo, em resposta ao sorriso que não conseguia ver no rosto do padre oculto na sombra, e cuja imagem ou espectro passara rapidamente pela sua mente quando a acentuação baixa e discreta lhe caíra no ouvido. Olhou calmamente para diante de si, para o dia em declínio, satisfeito por a frescura da noite e o vago brilho amarelado ocultarem a minúscula chama que se acendera nas suas faces.
Os nomes dos artigos de vestuário feminino ou de certos tecidos macios e delicados usados na sua confecção traziam-lhe sempre à mente um perfume delicado e pecaminoso. Quando rapaz, tinha imaginado que as rédeas dos cavalos eram finas faixas de seda e chocara-o sentir, em Stradbrooke, o couro ensebado dos arreios. Tinha ficado igualmente chocado, ao sentir, pela primeira vez, entre os seus dedos trémulos, a frágil textura de uma meia de mulher, porque, nada mais retendo do que lia senão o que lhe parecia um eco ou uma profecia da sua própria situação, só ousava conceber a alma ou o corpo de uma mulher a mover-se, fragilmente, entre frases suaves ou tecidos macios e rosados.