Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 214 / 273

Encontrava-se de pé, no início da escadaria, com um pé no primeiro degrau, arregaçando a sotaina poida para a subida, com cuidados femininos, acenando frequentemente com a cabeça e repetindo:

- Sem dúvida, Mr. Hackett! Muito bem! Sem dúvida alguma! No meio do vestíbulo, o prefeito da confraria conversava seriamente, numa voz suave e lamuriosa, com um pensionista. Ao falar, enrugava um pouco a testa coberta de sardas e mordia, entre as frases, um minúsculo lápis de osso.

- Espero que todos os rapazes matriculados venham. Do primeiro de letras, estou absolutamente seguro. Do segundo de letras, também. Temos que nos certificar em relação aos caloiros.

Temple voltou a inclinar-se pela frente de Cranly, quando passavam pela entrada, e disse, num sussurro rápido:

- Sabia que ele é casado? Já era casado antes de se converter.

Tem mulher e filhos algures. Pelo Inferno, acho isso a coisa mais esquisita que já ouvi! Hein?

O sussurro morreu num riso brejeiro e cacarejante. Mal atravessaram a entrada, Cranly agarrou-o bruscamente pelo pescoço e começou a sacudi-lo, dizendo:

- Meu trapalhão idiota e cretino! Aposto a minha Bíblia moribunda em como não existe no raio do mundo inteiro um macaco mais estúpido do que tu!

Temple debateu-se para se livrar do aperto, rindo ainda, com manhosa satisfação, enquanto Cranly repetia surdamente a cada sacudidela:

- Um trapalhão e um idiota chapado!

Atravessaram juntos o jardim cheio de ervas daninhas. O director, envolto numa capa ampla e pesada, avançava na direcção deles, por uma das áleas, lendo o seu breviário. No final da álea, deteve-se antes de voltar e ergueu os olhos. Os estudantes saudaram-no; Temple procurou, como sempre, às apalpadelas, o pico superior do boné.





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