Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 215 / 273

Continuaram a andar em silêncio. À medida que se aproximavam do beco, Stephen começou a ouvir os batimentos das mãos dos jogadores, o ruído húmido da bola, e a voz de Davin que gritava, excitado, a cada jogada.

Os três estudantes detiveram-se junto da caixa onde Davin se sentara para seguir o jogo. Temple, ao fim de uns momentos, foi colocar-se ao lado de Stephen e disse:

- Desculpe, gostaria de perguntar-lhe se acredita que Jean-Jacques Rousseau era um homem sincero.

Stephen soltou uma risada franca. Cranly, apanhando da relva, aos seus pés, um pedaço de aduela de um tonel, voltou-se rapidamente e declarou, com um ar severo:

- Temple, juro pelo Deus vivo que, se dizes mais uma palavra, a alguém, seja qual for o assunto, te mato super spottum (aqui mesmo).

- Ele era como o senhor, imagino eu - disse Stephen -, um homem emocional.

- Raios o partam! - disse Cranly, grosseiramente. - Não fales com ele. É evidente que falar com Temple é a mesma coisa que falares para a porcaria do teu penico. Vai-te embora, Temple. Pelo amor de Deus, vai-te embora!

- É-me indiferente o que tu dizes, Cranly - respondeu Temple, colocando-se fora do alcance da aduela erguida e apontando para Stephen. - Este é o único homem que eu vejo nesta instituição que possui um espírito independente.

- Instituição! Independente! - exclamou Cranly. - Vai-te embora, raios te partam, és uma criatura impossível.

- Sou um homem emocional- disse Temple. - É uma definição perfeita. E sinto-me orgulhoso de ser emocional.

Encostou-se a um dos lados do beco, sorrindo manhosamente.

Cranly observou-o com um rosto inexpressivo.

- Olha para ele! - disse. - Já viste algum limpa-paredes como este?

A sua frase foi acolhida com uma estranha risada de um estudante que estava encostado à parede, com o boné pontiagudo enterrado até aos olhos.





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