As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 100 / 339

CAPÍTULO II

Retrato da filha do lavrador. O autor é levado ao mercado da aldeia e, depois, à cidade. Pormenores da viagem.

A minha ama tinha uma filha de nove anos, precoce para a idade, muito hábil na agulha e nos vestidos para a boneca. Mãe e filha delinearam preparar o berço da boneca como quarto. Colocaram o berço numa pequena gaveta e puseram-na sobre uma consola suspensa por receio dos ratos. Aquele foi o meu leito durante o tempo que passei com aquela gente, embora tenha conseguido mais comodidades à medida que aprendia o idioma deles e podia comunicar as minhas necessidades. A mocinha era tão habilidosa que. depois de me ter visto despir e vestir um par de vezes, ficou logo habilitada a fazê-lo ela própria ainda que, quando me o permitia, evitava-lhe esse incómodo procedendo eu próprio a essas operações. Fez-me sete camisas e peças de roupa interior do tecido mais fino que pôde encontrar; mesmo assim, era um tecido ainda mais tosco que serapilheira e que ela própria, amiúde, lavava. Além disto, era a minha professora na aprendizagem do idioma. Quando eu apontava para alguma coisa, ela indicava o nome, pelo que em poucos dias era capaz de dizer o que me ocorria. Tinha na verdade um carácter compassivo; não excedia os quarenta pés e, mesmo assim, era pequena para a sua idade. Deu-me o nome de Gildrig, também adoptado pela família e, depois, pelo reino inteiro. Gildrig é o que os latinos chamam Nanunculus, os italianos Homumceltino e os ingleses Mannikin. Devo quase totalmente a ela a minha subsistência naquele país e, durante a minha estadia, nunca nos separámos.





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