Eu chamava-a a minha
Glumdalclitch, isto é, a pequena ama, e cometeria o pecado da ingratidão se não mencionasse aqui o seu cuidado e afecto. Do coração desejaria que estivesse na minha mão poder compensá-la de forma adequada em vez de ser o desditoso ainda que inocente instrumento da sua infelicidade, pois não me faltam razões para assim o julgar.
Começou a constar entre os vizinhos que o meu amo encontrara um estranho animal no campo, do tamanho de um splacknuck, mas semelhante a uma criatura humana pelos seus actos e constituição. Ao que parecia, falava um idiomazito muito peculiar e aprendera algumas palavras do país, caminhava sobre duas pernas, era manso e delicado, atendia ao chamado, fazia o que era mandado e tinha os membros muito bem formados; a pele era mais branca que a de uma criança de três anos da nobreza. Outro lavrador que não vivia longe e era amigo íntimo de meu amo veio visitar-nos expressamente para indagar a verdade desta história. Em seguida, apresentaram-me e puseram-me sobre uma mesa por onde caminhei, conforme me era ordenado, desembainhei e voltei a embainhar o sabre, prestei homenagem ao convidado do meu amo na sua própria língua perguntei como estava de saúde e dei-lhe as boas-vindas consoante as instruções da minha pequena ama. Este hóspede, que era ancião e curto de vista, pôs os óculos para me ver melhor. Não pude deixar de rir abertamente pois os seus olhos eram semelhantes à lua cheia projectando luz num quarto pelas duas janelas. Os de casa, que se aperceberam do motivo do meu riso, também se riram, o que provocou a cólera do velho, que tinha pouco sentido de humor. Era um ancião avaro por natureza.
