Já indiquei ao leitor que no lado da caixa que não tinha janela havia duas anilhas fixas pelas quais o criado que me levava a cavalo fazia passar a correia de couro que prendia à cintura. Encontrando-me em tão desesperada situação ouvi, ou julguei ouvir, umas arranhadelas na parede onde estavam as argolas. Em breve tive a sensação de que a caixa era arrastada ou rebocada; de vez em quando sentia-se um esticão e as ondas quase cobriam as janelas, deixando-me completamente às escuras.
Isto proporcionou-me uns ténues indícios de esperanças de libertação, ainda que não pudesse imaginar como ela poderia ocorrer. Atrevi-me a desaparafusar uma das cadeiras sempre presas ao chão e, depois de conseguir' com grande esforço voltar a aparafusá-la mesmo por baixo do postigo do tecto, que já abrira, subi para a cadeira e, aproximando ao máximo a boca do respiradouro, pedi socorro aos gritos e nos diversos idiomas que conhecia. Em seguida, atei um lenço a um bastão que costumava usar e, fazendo-o passar pelo orifício, agitei-o várias vezes pelo ar a fim de, se alguma embarcação ou navio estivesse próximo, os marinheiros poderem perceber que dentro daquela caixa se encontrava encerrado um infeliz mortal.