Os criados que servem e tratam do governador e da família são de natureza um tanto especial. Este príncipe, graças aos seus talentos para a necromancia, tem o poder de chamar os mortos que quer para seu serviço e de confiar-lhes qualquer tarefa por um período não superior a vinte e quatro horas, uma vez de três em três meses, excepto em casos verdadeiramente excepcionais.
Quando chegámos à ilha, por volta das onze da manhã, um dos cavalheiros que me acompanhavam pediu uma audiência ao governador para apresentar um estrangeiro, que visitava a ilha para saudá-lo. A audiência foi-nos concedida imediatamente e entrámos os três pelo portão do palácio, entre duas filas de guardas armados e equipados conforme os velhos usos, mas nos rostos deles havia um ricto de terror que nos deu calafrios. Cruzámos diversos aposentos, entre criados de idêntico padrão, posicionados, como os anteriores, em duas fileiras, até que chegámos ao salão de audiências onde, depois de três pronunciadas vénias e um breve interrogatório geral, foi-nos autorizado ocupar três escabelos junto ao degrau inferior do trono de Sua Alteza. Ainda que diferente da linguagem da ilha, compreendia a de Balnibarbi. Convidou-me a que fizesse um ligeiro relato das minhas viagens; e, para que visse que me tratava sem formalismo.