As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 250 / 339

Levava cinquenta homens a bordo e tinha ordens de comerciar com os índios dos mares do Sul e realizar todas as descobertas possíveis. Os patifes que contratara aliciaram os outros tripulantes e conspiraram para me fazer prisioneiro e apoderar-se do barco. Certa manhã puseram em prática os seus propósitos, irrompendo violentamente pelo meu camarote; prenderam-me de pés e mãos, ameaçando lançar-me pela amurada se oferecesse resistência. Declarei-me prisioneiro deles, submetendo-me à sua vontade. Pediram-me que o jurasse e, depois, desataram-me, ficando apenas preso por uma corrente, segura a uma das minhas pernas e à cama, e colocaram um guarda diante da porta com a arma carregada e com ordens de abater-me a tiro se procurasse fugir. Os amotinados traziam-me comida e bebida e tomaram a seu cargo o governo do barco. Pretendiam converter-se em piratas e assaltar barcos espanhóis, coisa que não podiam fazer sem mais homens. Assim, decidiram vender primeiro a carga e partir depois para Madagáscar, a fim de recrutar mais gente, já que durante o meu cativeiro morreram vários. Navegaram durante várias semanas. Comerciaram com os índios, mas desconhecia qual o rumo seguido, pois tinham-me severamente confinado ao camarote. Perante as suas frequentes ameaças, não aguardava outra coisa que ser assassinado por eles.

A 9 de Março de 1711, um tal James Welch desceu ao meu camarote e disse-me que o comandante ordenara que eu desembarcasse. Procurei em vão discutir com ele; nem sequer me comunicou o nome do novo comandante. Forçaram-me a subir para uma chalupa, permitiram que me vestisse com a melhor roupa, praticamente nova, e deram-me uma trouxa com roupa interior e um sabre como arma.





Os capítulos deste livro