Tiveram a delicadeza de não passar revista aos meus bolsos, onde guardava todo o meu dinheiro e outros pertences imprescindíveis. Remaram coisa de uma légua e desembarcaram-me numa praia. Supliquei que me dissessem que região era aquela, mas todos me enganaram, respondendo que sabiam tanto como eu, e acrescentaram que o novo comandante por eles designado decidira desembaraçar-se de mim logo que fosse avistada terra firme, e uma vez vendida a carga. Enquanto se afastavam e se despediam, advertiram-me que devia apressar-me se não queria ser arrastado pela maré.
Em tão precária situação avancei e rapidamente tive pé. Sentei-me num declive para descansar e reflectir sobre o que devia fazer. Quando recobrei um pouco as minhas forças, embrenhei-me na região, decidido a entregar-me aos primeiros selvagens que encontrasse e a trocar a minha vida por algumas pulseiras, contas de vidro e outras bugigangas que um marinheiro leva consigo em viagem, como era o meu caso. A paisagem encontrava-se dividida por compridas fileiras de árvores que não tinham sido plantadas simetricamente, parecendo antes crescerem de forma espontânea. Havia grande abundância de pastos e alguns campos de aveia. Avançava com muita cautela ante o receio de um ataque de surpresa ou de uma frechada vinda da retaguarda ou dos flancos. Cheguei a um caminho onde havia numerosos vestígios de pés humanos e de patas de vacas e, especialmente, de cavalos. Finalmente, observei diversos animais num campo e um grupo ou dois de outros da mesma espécie encarrapitados nas árvores. O aspecto destes animais era muito estranho e disforme, o que me intranquilizou um pouco, de forma que me ocultei atrás de uma mata para os observar melhor.