As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 308 / 339

Exterminaram-se os mais velhos e cada houyhnhnm ficou com dois jovens, metendo-os num covil para os domesticar, se é que se pode dizer isso de um animal tão selvagem por natureza, para os utilizar como bestas de carga e de transporte. Havia, aparentemente, muito de verdade nesta tradição; estas criaturas não podiam ser ylnhniamshy (ou aborígenes da terra) dado o asco que lhe tinham tanto os houyhnhnms como os outros animais, asco plenamente merecido atendendo à sua perversidade; se tivessem sido aborígenes nunca se teria chegado a tais extremos, pois há muito tempo teriam sido exterminados. Além do mais, os habitantes, empenhados em utilizar os yahoos, haviam descuidado imprudentemente a criação de asnos, animais formosos, fáceis de manter, mais mansos e obedientes, sem cheiro desagradável, com força suficiente para trabalhar, ainda que menos ágeis que os yahoos; e embora não pudessem ser considerados agradáveis os seus zurros, eram bem preferíveis aos terríveis guinchos dos yahoos.

Vários outros deputados tomaram a palavra para defender a sua tese.

Em seguida, o meu amo propôs à assembleia um expediente baseado numa sugestão minha. Aprovava a tradição, tal como fora exposta pelo honorável membro que o havia precedido no uso da palavra. Mas afirmava que estes dois lendários yahoos, que tinham sido vistos pela primeira vez no país, tinham chegado de regiões situadas no outro lado do mar; que uma vez desembarcados, sendo abandonados pelos companheiros, refugiaram-se nas montanhas onde sofreram uma degradação progressiva e, com o tempo, tornaram-se muito mais selvagens que os seus próprios congéneres de onde aqueles dois eram oriundos. O fundamento desta tese baseava-se no facto de ter um yahoo magnífico (eu próprio), relativamente a quem a maioria já tinha ouvido falar e muitos tinham visto.





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