As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 43 / 339

Passei então sobre os edifícios com muita facilidade, de um banco para o outro, e retirei o que estava atrás de mim com um pau com um gancho na ponta. Graças a este estratagema cheguei ao pátio central e, encostando-me de lado, aproximei o rosto dos andares intermédios, cujas janelas tinham sido deixadas propositadamente abertas, e vi salões que excediam tudo o que imaginara. Ali vi a imperatriz e os jovens príncipes em vastas salas, rodeados pelos seus principais servidores. Sua Alteza Imperial dignou-se muito graciosamente a sorrir-me e estendeu-me a mão pela janela para que a beijasse.

Mas não aborrecerei o leitor com mais descrições deste género porque as reservo para um trabalho mais extenso que está quase pronto para ser impresso e que contém uma descrição geral deste império desde as origens, uma ampla crónica dos sucessivos reinados, uma memória pormenorizada das guerras, política, leis, cultura, religião, flora e fauna, costumes e usos próprios e outros temas de grande curiosidade e utilidade. Por agora, procurarei descrever principalmente os acontecimentos e eventos que ocorreram às pessoas e a mim mesmo, durante os cerca de nove meses que residi naquele império.

Certa manhã, uns quinze dias depois de ter sido libertado, Redresal, o designado secretário de Estado para os Assuntos Privados, veio visitar-me, acompanhado apenas por um servidor. Deu ordens para que a sua carruagem o esperasse a certa distância e pediu-me que lhe concedesse uma audiência de uma hora; acedi rapidamente, tendo em conta a sua categoria, méritos pessoais e os excelentes ofícios prestados aos meus requerimentos para a corte. Disse-lhe que, se quisesse, eu me baixaria, para facilitar o diálogo; mas, em vez disso, preferiu que o sustivesse na mão enquanto conversávamos.