As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 77 / 339

CAPÍTULO VIII

o autor, graças a um afortunado acidente, encontra o meio de abandonar Blefuscu e de regressar, após algumas dificuldades, são e salvo ao seu país natal.

Três dias após a minha chegada, dirigindo-me por curiosidade à parte norte da ilha, vi no mar, à distância de meia légua, algo que se parecia com um bote voltado. Tirei os sapatos e os coturnos e, vadeando duzentas ou trezentas jardas, notei que o objecto se ia aproximando por força da maré, e vi então claramente que era, na verdade, um bote, que podia ter-se desprendido de algum barco devido a algum temporal. Regressei imediatamente à cidade e pedi a Sua Majestade Imperial que me entregasse vinte das maiores embarcações de que dispunha, depois da perda da frota, e três mil marinheiros às ordens de um vice-almirante, Esta flotilha fez-se ao mar, enquanto eu regressei por um atalho ao lugar da costa onde localizara o bote. Verifiquei que a maré o aproximara ainda mais. Os marinheiros levavam o cordame que havia entrançado anteriormente, para lhe dar maior consistência. Quando chegaram os barcos, despi-me e caminhei até chegar a umas cem jardas do bote e dali alcancei-o a nado. Os marinheiros atiraram-me um cabo da amarra que fixei, por um lado, a uma abertura na popa do bote e, por outro, a um barco de guerra. Mas o meu esforço foi de pouca utilidade porque, não tendo pé, não podia puxar com força. Perante este contratempo, vi-me forçado a nadar por detrás do bote e a empurrá-lo, conforme podia, com uma das mãos. Por fim, com a maré a meu favor, avancei o suficiente até ter pé, com o queixo fora de água. Descansei dois ou três minutos e logo dei ao bote outro empurrão e assim continuei até que a água me chegou aos sovacos.





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