O Livro da Selva - Cap. 1: OS IRMÃOS DE MÁUGLI Pág. 2 / 158

- Entra então a ver - disse-lhe Pai Lobo secamente -, mas aqui não há nada que se coma.

- Não haverá para um lobo - disse Tábàqui -, mas para um ser mesquinho como eu, um osso esburgado é festim. Pois quem somos nós, os Guidur-Logue [a raça de chacais], para escolher? - E pirou-se para o fundo do covil, onde achou um osso de veado com uns restos de febras e pôs-se a rilhar uma ponta, muito contente.

- Muito obrigado por esta lauta refeição - disse, lambendo os beiços. - Que lindos são os nobres meninos! E que grandes olhos eles têm! E ainda tão novinhos! Mas, na verdade, devia ter-me lembrado de que os filhos dos reis são homens desde que nascem!

Ora Tábàqui sabia, tão bem como qualquer outra pessoa, que não há nada mais desastrado que elogiar crianças na sua presença; e sentiu prazer em notar que Pai e Mãe Lobos não gostaram da graça.

Tábàqui calou-se a saborear a maldade que fizera e depois disse malevolamente.

- O Grande Xer Cane mudou de campo de caça. Na lua próxima vem caçar para estes montes, assim mo disse ele.

Xer Cane era o tigre que vivia na vizinhança do rio Ueinganga, a vinte milhas dali.

- Não tem esse direito! - começou Pai Lobo, encolerizado.

- Pela Lei da Selva, não tem direito a mudar de residência sem pré-aviso. Vai assustar todas as cabeças de caça na redondeza de dez milhas e eu, eu tenho de caçar por dois nestes tempos.

- A mãe não lhe chamou Langri [o Coxo] sem razão - disse a Mãe Loba serenamente. - Nasceu coxo de uma pata. É por isso que só mata gado. Os aldeões de Ueinganga estão agora zangados com ele, e ele veio para aqui para irritar os nossos aldeões. Vão correr a Selva em busca dele, quando estiver longe, e nós e os nossos filhos teremos de fugir quando puserem fogo ao capim.





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