O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 90 / 158

Vejo que vos inclinais com graça mas gostaria de saber como vos chamais. - Os beiços rachados mexeram-se e crisparam-se, os olhos verde vítreo arregalaram-se, mas nada disseram.

- Na verdade - disse Cótique -, sois a única raça que encontrei mais feia que Bruxo Marinho, e mais mal-educada.

E lembrou-se então, de repente, do que a gaivota-burgomestre lhe guinchara, quando era ainda um pequeno anejo na ilha da Morsa, e deixou-se cair de costas para a água, porque sabia que encontrara finalmente a Vaca Marinha.

As vacas marinhas continuaram a bambolear-se a pastar e a mascar as algas, e Cótique dirigiu-lhes perguntas em todas as línguas que aprendera nas suas viagens, pois os viventes do mar falam quase tantas línguas como os humanos. Mas a Vaca Marinha não respondeu, porque ela não fala. Tem somente seis ossos no pescoço, quando devia ter sete, e dizem dentro do mar que é isso que a impede de falar aos próprios companheiros; mas, como sabeis, tem mais uma articulação na barbatana anterior, e, agitando-a para cima e para baixo e de um lado para o outro, forma uma espécie de código telegráfico rudimentar.

Quando rompeu o dia Cótique tinha a juba em pé e a paciência fora-lhe para onde vão os caranguejos mortos. As vacas marinhas começaram então a deslocar-se lentamente para o Norte, parando de vez em quando a fazer absurdos conselhos de reverência, e Cótique seguia-as dizendo para consigo: «Gente tão idiota como esta já teria sido abatida há muito tempo se não tivesse encontrado alguma ilha segura; e aquilo que serve à Vaca Marinha serve também ao Rompão do Mar. Não obstante, gostaria que se apressassem.»

Era tarefa fatigante para Cótique. A manada nunca avançava mais de quarenta ou cinquenta milhas por dia, parava à noite para se alimentar e mantinha-se sempre perto de terra, enquanto Cótique nadava em redor, por cima e por baixo delas, mas não conseguia fazê-las andar mais meia milha que fosse.





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