O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 89 / 158

Perseguiu-os até se cansar e depois enrodilhou-se e adormeceu no côncavo da ondulação que se estabelece junto da ilha do Cobre. Conhecia perfeitamente a costa e, por isso, cerca da meia-noite, ao sentir-se embater levemente sobre um banco de algas, disse:

- Hum, a maré está forte esta noite. - E, voltando-se debaixo de água, abriu lentamente os olhos e esticou-se. Então deu um salto de gato, porque lobrigou uns bichos enormes a fossar na água do baixio e a roer as pesadas franjas das algas.

- Pelas Grandes Vagas de Magalhães! - disse por debaixo do bigode. - Que bichos do mar são estes?

Não se pareciam com morsa ou leão-marinho, foca, urso, baleia, tubarão, peixe ou salmeira, que Cótique alguma vez tivesse visto. Tinham entre vinte e trinta pés de comprimento e careciam de barbatanas posteriores, mas possuíam um rabo em forma de pá que parecia ter sido aparelhado em couro amolecido. As cabeças eram a coisa mais disforme que jamais se viu e equilibravam-se em água funda, quando não pastavam, fazendo uns aos outros vénias solenes e agitando os natatórios anteriores como um gorducho agita o braço.

- Hum! Hum! - disse Cótique. - Divertem-se, meus senhores? - Os enormes bicharocos responderam fazendo vénias e agitando as barbatanas, como a rã-lacaio. Quando se puseram de novo a comer Cótique viu que tinham o lábio superior rachado em duas partes, as quais podiam afastar cerca de um pé e juntar de novo com um alqueire e meio de algas marinhas entre as ranhuras. Empurravam a coisa para a boca e ruminavam solenemente.

- Porca maneira de comer esta - disse Cótique. Tornaram a fazer-lhe vénias, mas Cótique começou a perder a paciência. Muito bem - disse. - Se por acaso tendes mais uma articulação na barbatana anterior, não é caso para o alardear tanto.





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