O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 91 / 158

À medida que avançavam mais para O Norte, realizavam um conciliábulo de reverências, de poucas em poucas horas, e Cótique, de impaciência, por pouco não arrancou o bigode com os dentes, até que viu que seguiam numa corrente quente, e então sentiu maior respeito por elas.

Uma noite mergulharam na água luzidia - afundaram-se como pedras - e, pela primeira vez desde que as conhecera, começaram a nadar depressa. Cótique seguiu-as e a velocidade espantou-o, porque nunca sonhara que a vaca marinha tivesse qualquer coisa de nadador. Dirigiram-se para uma pene dia junto à costa - penedia que penetrava na água funda - e mergulharam para dentro de um buraco negro ao sopé, vinte braças abaixo da superfície. Foi um mergulho comprido e demorado, e Cótique sentiu a necessidade de ar puro antes de sair do escuro túnel por onde o tinham levado.

- C'oa breca! - disse, quando subiu à tona de água do outro lado, arquejante e a bufar. - Foi um grande mergulho prolongado, mas valeu a pena.

As vacas-marinhas tinham-se dispersado e pastavam pachorrentamente à beira das praias mais belas que Cótique jamais vira. Havia extensas superfícies de rocha lisa, de milhas de comprimento, que pareciam feitas para viveiros de focas, e lá estavam recreios de areias duras, em declive para o interior por detrás das rochas, e não faltava a rebentação para as focas dançarem, erva comprida para se rebolarem e dunas de areia para subir e descer; e, melhor que tudo, Cótique soube pelo toque da água, incapaz de enganar um verdadeiro rompão do mar, que os homens ainda ali não tinham vindo.

A primeira coisa que fez foi assegurar-se de que a pescaria era boa e depois bordejou as praias e contou todas as deliciosas ilhas baixas e arenosas, meio escondidas no lindo nevoeiro movediço.





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