O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 92 / 158

Lá muito para o norte e ao largo corria um friso de barreiras, baixios e rochedos, que nunca permitiriam a um navio aproximar-se da praia menos de seis milhas, e entre as ilhas e a terra firme havia uma extensão de água funda que chegava à penedia perpendicular e algures, no sopé da penedia, abria-se a boca do túnel.

«É outra Novastosná, mas dez vezes melhor», pensou Cótique. «A Vaca Marinha deve ser mais esperta do que eu supunha. Os homens, se os houvesse, não poderiam descer a penedia, e os baixios do lado do mar desfariam um barco em estilhas. Se no mar há lugar seguro, é este.»

Começou a pensar na foca que deixara, mas, conquanto tivesse pressa de voltar a Novastosná, explorou totalmente o novo país, de modo a poder responder a todas as perguntas. Depois mergulhou, fixou bem a boca do túnel e atravessou-o em direcção ao Sul. Ninguém, a não ser uma Vaca Marinha ou uma foca, teria sonhado que existia tal lugar, e, quando se voltou a olhar para a penedia, o próprio Cótique mal acreditava que lhe tivesse passado por baixo.

Levou seis dias a chegar à sua terra, embora não se movesse devagar; e quando pôs pé em terra, logo acima do Cachaça do Leão, a primeira pessoa que encontrou foi a foca que o esperara, a qual viu, pelo brilho que ele trazia nos olhos, que descobrira enfim a sua ilha.

Mas os holuchiqui e Rompão Marinho, seu pai, e todas as outras focas desataram a rir-se dele quando lhes contou o que tinha descoberto, e um macho jovem, mais ou menos da sua idade, declarou:

- Tudo isso é muito lindo, Cótique, mas tu não podes vir, sabe Deus de onde, a mandar-nos assim sair daqui. Lembra-te de que temos andado a bater-nos pelos nossos viveiros, coisa que tu nunca fizeste. Preferiste andar a vaguear pelo mar.





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