Histórias Extraordinárias - Cap. 2: O CASO DE LADY SANNOX Pág. 20 / 136

A cada instante, a sua faca afastava a morte, mas aflorando as próprias fontes da vida, ao ponto de os seus auxiliares ficarem tão pálidos como o paciente.

Da sua energia, da sua audácia, da sua confiança em si mesmo, a lembrança permanece ainda do sul de Mareylebone Road até ao norte de Oxford Street.

Os seus vícios eram tão resplandecentes como as suas virtudes e infinitamente mais pitorescos.

Assim, por muito consideráveis que fossem os seus rendimentos, e ficavam entre os três mais consideráveis dos seus colegas de Londres, quedavam-se muito abaixo do luxo da sua existência.

No fundo da sua natureza complexa, havia uma rica veia de sensualidade e explorá-la parecia-lhe o único valor da vida.

Os olhos, os ouvidos, o tacto, o gosto eram os seus amos.

O aroma dos vinhos da velha lavra, o perfume das plantas exóticas raras, as curvas e os matizes das mais delicadas loiças da Europa, foi nisto que se transformou a torrente de ouro.

Depois, surgiu de súbito a sua louca paixão por lady Sannox.

O simples cruzamento de dois olhares provocadores, uma palavra murmurada fizeram-no inflamar-se

Ela era a mulher mais encantadora de Londres e para ele era a única.

Por sua vez ele era um dos' mais belos homens de Londres, mas não o único para ela.

Ela sentia gosto por novas experiências, e era amável para com a maioria daqueles que a cortejavam. Talvez tenha sido isto o efeito, talvez a causa: lorde Sannox parecia ter cinquenta anos quando apenas tinha trinta e seis.


II

Era um homem tranquilo, silencioso, neutro, este lorde de lábios finos, de grandes pestanas, muito entregue à jardinagem, e cheio de hábitos caseiros... Durante algum tempo, gostara de representar a comédia e tinha até arrendado um teatro em Londres; nas tábuas vira pela primeira vez miss Marion Dawson, a quem ofertara a mão, o título e um terço do condado.





Os capítulos deste livro