No sexto, houve uma rigidez passageira.
No sétimo, as pálpebras começaram a fechar-se.
No décimo, os olhos cerraram-se. A respiração tornou-se mais lenta e mais forte do que habitualmente.
Enquanto observava, esforçava-me por conservar a minha frieza científica, mas sentia-me excitado por uma louca agitação.
Espero que haja conseguido ocultá-lo, mas sentia o mesmo que uma criança nas trevas.
Nunca me teria julgado acessível a uma tal fraqueza.
- Está em pleno transe - disse miss •Penelosa.
- Ela dorme! - exclamei eu.
- Nesse caso, acorde-a!
Puxei-a pelo braço e gritei-lhe ao ouvido. Se estivesse morta não teria ficado mais insensível aos meus apelos.
O seu corpo encontrava-se ali, no assento de veludo.
O organismo estava intacto; os pulmões, o coração funcionavam. Mas a alma? Tinha-se esquivado para longe do nosso alcance. Em que se tornara? Que poder a desapossara?
Estava intrigado e desconcertado.
- Aqui temos um sono mesmérico - disse miss Penelosa. - Quanto à sugestão, tudo o que eu puder sugerir a miss Marden, ela executá-lo-á infalivelmente, ou agora ou depois de ter despertado. Quer uma prova?
- Certamente - disse eu.
- Vai tê-la.
Vi passar-lhe pelo rosto um sorriso, como se um pensamento divertido lhe tivesse cruzado o espírito.
Inclinou-se e murmurou com ar grave algumas palavras ao ouvido da sua paciente.
Agathe, que se mostrara tão completamente surda aos meus apelos, meneou a cabeça em sinal de assentimento com o que ouvia.
- Acorde - exclamou miss Penelosa, ao mesmo tempo que batia rapidamente no soalho com a muleta.
As pálpebras abriram-se, a névoa dos olhos desvaneceu-se aos poucos e a alma manifestou-se como se reaparecesse após o seu estranho eclipse.