Histórias Extraordinárias - Cap. 4: O GATO DO BRASIL Pág. 95 / 136

- Vou - disse Everard King - mostrar-lhe a jóia da minha colecção. Na Europa só existe um segundo espécime, agora que o de Roterdão morreu. É um gato do Brasil.

- Em que é que um gato do Brasil difere dos outros? O meu primo desatou a rir.

- Vai já ver. Tenha a amabilidade de puxar esse taipal e de olhar para o interior.

Fiz como ele dizia. Diante de mim surgiu uma grande sala vazia, lajeada, e cuja parede oposta era iluminada por pequenas janelas gradeadas. No centro, no rasto de ouro criado por um raio de sol, estava deitado um formidável animal, com a dimensão de um tigre, mas de um negro reluzente como o do ébano. Este tigre não passava de um gigantesco gato preto, em muito bom estado, que se enovelava na luz e se aquecia assim à maneira dos gatos. Era ao mesmo tempo tão musculoso e tão ágil, com uma graça felina tão perfeitamente diabólica que não consegui desviar a vista dele.

- Ora bem - perguntou-me o meu anfitrião com entusiasmo -, que pensa disto? Viu alguma vez um animal mais magnífico?

- Nunca, na verdade. É a elegância e o vigor na harmonia das formas.

- Alguns qualificam-no, erradamente, de puma preto.

Mede perto de três metros da cauda à cabeça. Há quatro anos era um novelo de crina preta com dois olhos amarelos. Foi-me vendido como recém-nascido na região selvagem das nascentes do Rio Negro. A mãe tinha morto doze homens quando acabaram com ela a golpes de lança.

- É, portanto, uma espécie particularmente feroz?

- A mais pérfida, a mais alterada de sangue que existe ao cimo da terra; fale num gato do Brasil a um índio da região alta e vê-lo-á dar um salto. A sua caça preferida é o homem. O marau que ali está ignora por enquanto o sabor do sangue quente: se vier a conhecê-lo será terrível.





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