O Dia em que o Mundo Acabou - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 6 / 72

Mostrou-me que havia certas linhas pretas que formavam barras cruzadas sobre a série de cores brilhantes que se estendiam do encarnado, numa ponta através de gradações de cor de laranja, amarelo, verde, azul e índigo, até ao violeta na outra.

- Aquelas bandas escuras são as linhas de Frauenhofer - disse ele. - As cores são apenas a própria luz. Cada luz, se conseguir dividi-la num prisma, dá as mesmas cores. Não nos dizem nada. São as linhas que contam, porque variam consoante o que quer que seja que produz a luz. Foram essas linhas que ficaram desfocadas ao invés de nítidas a semana passada, e todos os astrónomos têm andado a discutir o motivo. Aqui está uma fotografia das linhas desfocadas para o nosso número de amanhã. Até agora o público não se interessou pelo assunto, mas parece-me que esta carta de Challenger no The Times fá-los-á acordar.

- E aquilo acerca de Sumatra?

- Bem, é um tiro no escuro relacionar uma linha desfocada no espectro com um negro doente na Sumatra. E, no entanto, o homem já nos mostrou antes que sabe do que está a falar. Há uma doença esquisita lá longe, disso não temos qualquer dúvida, e hoje chegou um telegrama de Singapura a dizer que os faróis estão inoperacionais nos Estreitos de Sunda, e que há dois navios na praia em consequência disso. De qualquer maneira, será bastante bom entrevistar o Challenger sobre o assunto. Se conseguir alguma coisa concreta, prepare-nos uma coluna para segunda-feira.

Eu ia a sair da sala do chefe de redacção, a pensar na nova missão que tinha entre mãos, quando ouvi o meu nome ser chamado da sala de espera lá em baixo. Era um rapaz do telégrafo com um telegrama que tinha sido reencaminhado tl.)R meus aposentos em Streatham. A mensagem era do próprio homem sobre quem tínhamos estado a falar, e dizia o seguinte:

«Malone. Hill Street, 17, Streatham. - Traga oxigénio. - Challenger.»

- Traga oxigénio! - O professor, segundo eu me lembrava, tinha um sentido de humor elefantino e era capaz das brincadeiras mais desajeitadas e trapalhonas. Seria esta uma das suas piadas que costumavam reduzi-lo a uma gargalhada ruidosa, em que os seus olhos desapareciam, e só se via a sua boca a tremer e a barba a abanar, supremamente indiferente à gravidade de tudo o que o rodeava?





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