Henriqueta tomo-lhe o braço com precipitação, e saiu do camarote abaixando levemente a cabeça aos cavalheiros, que se davam tratos por adivinhar o segredo daquela conversa.
- “Não pronuncies o meu nome em voz alta, Carlos. Sou Henriqueta; mas não me atraiçoes, se queres a minha amizade.”
- “Como hei-de eu atraiçoar-te, se não sei quem és? Podes chamar-te Júlia em vez de Henriqueta, que, nem por isso te fico conhecendo mais... Tudo mistérios! Tens-me, há mais de uma hora, num estado de tortura! Eu não sirvo para estas emboscadas... Diz-me quem é aquela mulher...”
- “Não viste que é D. Elisa Pimentel, filha do visconde do Prado?”
- “Não a conhecia...”
- “Então que mais queres que eu te diga?”
- “Muitas outras coisas, minha ingrata. Quero que me digas quantos nomes tem aquela Laura, que se chama Elisa. Fala-me do marido daquela mulher...”
- “Eu te digo... O marido daquela mulher chama-se Vasco de Seabra.. Estás satisfeito?”
- “Não... Quero saber que relações tens tu com esse Vasco ou com aquela Laura?”
- “Não saberás mais nada, se fores impaciente. Imponho-te mesmo um profundo silêncio a respeito do que ouviste. À menor pergunta que me faças, deixo-te ralado por essa curiosidade indiscreta, que te faz parecer uma mulher de soalheiro. Eu contraí contigo a obrigação de te contar a minha vida?”
- “Não; mas contraístes com a minha alma a obrigação de eu me interessar na tua vida e nos teus infortúnios desde este momento.”
- “Obrigado, cavalheiro! - Juro -te uma sincera amizade. - Hás-de ser o meu confidente.
Estava, outra vez, na plateia. Henriqueta aproximou-se ao quarto camarote da primeira ordem, firmou o pé de fada na frisa, segurou-se ao peitoril do camarote, e travou conversação com a família que o ocupava.