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Capítulo 5: V

Página 23
Isolado de todo o mundo, o irmão de Henriqueta confiou a sua irmã os segredos do seu muito saber, e formou-lhe um espírito varonil, e inspirou-lhe uma ambição faminta de ciência.’

» Bem sabes, Carlos, que falo de mim, e não posso, nesta parte, engrinaldar-me de flores imodestas, se bem que não me faltariam depois espinhos que me desculpassem as vaidosas flores...

» Eu cheguei a ser o eco fiel dos talentos do meu irmão. Nossos pais não compreendiam as práticas literárias com que aligeirávamos as noites de Inverno; e, mesmo assim, folgavam de nos ouvir, e via-se-lhes nos olhos aquele rir de bondoso orgulho, que tanto inflama as vaidades da inteligência.

» Aos dezoito anos achei pequeno o horizonte da minha vida, e enfastiei-me da leitura, que mo fazia cada vez amesquinhar-se mais. Só com a experiência se conhece o quanto a literatura modifica a organização de uma mulher. Eu creio que a mulher, apurada na ciência das coisas pensa de um modo extraordinário na ciência das pessoas. O prisma das suas vistas penetrantes é belo, mas as lindas cambiantes do seu prisma são como as cores variegadas do arco-íris, que anuncia tempestade.

» Meu irmão lia-me os segredos do coração! Não é fácil mentir ao talento com as hipocrisias do talento. Compreendeu-me, teve dó de mim.

» Meu pai morreu, e minha mãe pediu à alma de meu pai que lhe alcançasse do Senhor uma vida longa para meu amparo. Ouviu-a Deus, porque eu vi um milagre na rápida convalescença com que minha mãe saiu de uma enfermidade de quatro anos.

» Eu vi um dia um homem no quarto de meu irmão, onde entrei como entrava sempre sem receio de encontrar um desconhecido. Quis retirar-me, e meu irmão chamou-me para me apresentar, pela primeira vez na sua vida, um homem.

» Este homem chama-se Vasco de Seabra.

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Capa do livro Coisas que só eu sei
Páginas: 51
Página atual: 23

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 7
III 12
IV 18
V 22
VI 27
VII 32
VIII 36
IX 40
X 46