Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 4: CAPÍTULO III - A MULHER QUE O MUNDO DESPREZA Pág. 68 / 156

Já se me não dava que ele o soubesse e me expulsasse. Jussara até comigo de lhe dizer a verdade, provocando- me o barão a dizê-la.

Foi o que sucedeu. À primeira queixa do homem assanhado pelo ciúme respondi que certissimamente amava Augusto; que queria passar do crime faustoso para a virtude na pobreza; que era muito infeliz na vida que tinha; e que só com amor se podia suportar a vergonha de ser banida da sociedade.

Espantou-se do meu desembaraço o barão e cobriu-me de injúrias; das injúrias passou às lágrimas; das lágrimas tornou aos insultos; e quando eu menos podia esperar uma vilania sem nome, deu-me uma bofetada. Levei as mãos ao rosto e quase perdi os sentidos. Quando abri os olhos, desvariados de angústia, o barão estava ajoelhado aos meus pés e dizia: ‘Eu não sou, há muito, teu marido porque não posso sê-lo, porque nunca te disse que sou casado e que tenho a mulher no Brasil. Espera que ela morra, e então serás minha mulher. A sociedade te respeitará então o título, a riqueza e a virtude de me teres sido fiel.’

Não sei que mais lhe ouvi, que parecia aumentar o sentimento de abominação agravado pelas súplicas depois do insulto. Afastei-me e escrevi-lhe, a despedir-me. Devia de ser-lhe nova e aflitiva surpresa quando viu a minha carta escrita com boa letra e rancorosa eloquência com que eu lhe atirava ao rosto a desestima em que o tinha, já convertida em desprezo.

Dum arremesso, entrou no meu quarto. Trazia um par de pistolas aperradas: tive-lhe medo e horror quando ele gritou: ‘Uma para te matar e outra para mim!’ ‘Que mal fiz eu para morrer?!, exclamei com ânsia de quem quer e pede a vida.

***

- Menti-lhe para me livrar das baixezas suplicantes e das ameaças. Prometi deixar Augusto e ficar na companhia do barão.





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