Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 4: CAPÍTULO III - A MULHER QUE O MUNDO DESPREZA Pág. 69 / 156

Pediu-me que escrevesse uma carta ao caixeiro, segundo ele ma ditasse. Recusei. Ameaçou-me de novo; vendo-me, porém, resistente e já disposta a morrer, tornou às branduras e desistiu da carta, como coisa inútil depois da minha promessa.

No mesmo dia, brindou-me com um alfinete de diamantes e mandou-me preparar para irmos viajar. O meu plano estava formado: respondi a tudo que sim.

Quando veio a mestra, dei-lhe uma carta para Augusto, avisando-o do meu projeto de fuga e pedindo-lhe que me recebesse assim pobre, que eu já sabia trabalhar e nunca lhe seria pesada.

A mestra estava já vendida ao barão, que foi logo senhor da carta. Se eu fosse esperta, adivinhara a perfídia da medianeira na alteração de rosto com que me recebeu a carta. Estava-se acusando a vil criatura; mas eu não podia julgá-la. Parece-me que só os infames podem julgar bem os infames.

Vi entrar o barão no meu quarto com terrível contratação de rosto. Sem me encarar, pediu-me uma a uma todas as minhas jóias: dei-lhas. Pediu-me todos os meus vestidos, todos, nomeando-os um a um pelas suas cores e estofos: dei-lhos; e perguntei se devia despir o que tinha vestido. ‘Veremos’, disse ele. E, depois de atirar com os vestidos a pontapés para o interior do seu quarto e guardar as jóias, acrescentou: ‘agora, vá quando quiser, que vai como veio. ‘Não vou como vim’, respondi eu. ‘Era pura quando entrei nesta casa, Sr. Barão.’ Replicou-me com um insulto sem nome e saiu.

Esperei que anoitecesse, e no entanto pensei para onde iria. O coração impelia-me para Augusto; mas eu ignorava a residência dele. Lembrou-me ir pedir agasalho a minha irmã, e de casa dela indagar a morada de Augusto.

Lembrou-me de relance a minha mãe; mas suposto me sorrissem as minhas irmãzinhas, fechei logo os olhos a esta horrorosa visão.





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