O Crime do Padre Amaro - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 233 / 478

E parece que são boas, porque há milhares de pessoas respeitáveis que as consideram boas, o Estado mantém-nas, gasta até um dinheirão para as manter, obriga-nos mesmo a respeitá-las, - e eu, que estou aqui a falar, pago todos os anos um quartinho para que elas continuem a ser assim. Tu naturalmente pagas menos...

- Pago sete vinténs, senhor doutor.

- Mas enfim vais às festas, ouves música, sermão, desforras-te dos teus sete vinténs. Eu, o meu quartinho perco-o; consolo-me apenas com a ideia de que vai ajudar a manter o esplendor da Igreja - da Igreja que em vida me considera um bandido, e que para depois de morto me tem preparado um inferno de primeira classe. Enfim, parece-me que temos cavaqueado bastante... Que queres mais?

João Eduardo estava acabrunhado. Agora que escutava o doutor, parecia-lhe, mais que nunca, que se um homem de palavras tão sábias, de tantas ideias, se interessasse por ele, toda a intriga seria facilmente desfeita e a sua felicidade, o seu lugar na Rua da Misericórdia recobrados para sempre.

- Então vossa excelência não pode fazer nada por mim? disse muito desconsolado.

- Eu posso talvez curar-te de outra pneumonia. Tens outra pneumonia a curar? Não? Então...

João Eduardo suspirou:

- Sou uma vítima, senhor doutor!

- Fazes mal. Não deve haver vítimas, quando não seja senão para impedir que haja tiranos - disse o doutor, pondo o seu largo chapéu desabado.

- Porque no fim de tudo, exclamou ainda João Eduardo que se prendia ao doutor com uma sofreguidão de afogado, no fim de tudo o que o patife do pároco quer, com todos os seus pretextos, é a rapariga! Se ela fosse um camafeu, bem se importava o maroto que eu fosse um ímpio ou não! O que ele quer é a rapariga!

O doutor encolheu os ombros.

- É natural, coitado - disse, já com a mão no fecho da porta. Que queres tu?





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