O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 216 / 414

..

Foi logo arranjar o saco de marroquim. Meteu lenços, alguma roupa branca, o estojo das unhas, o rosário que lhe dera Basílio, pós-de-arroz, algumas jóias que tinham pertencido à mamã... Quis levar as cartas de Basílio também... Tinha-as guardadas num cofre de sândalo, no gavetão do guarda-vestidos. Espalhou-as no regaço; abriu uma, de onde caiu uma florzinha seca; outra que tinha, na dobra, a fotografia de Basílio. De repente, pareceu-lhe que não estavam completas! Tinha sete; cinco bilhetes curtos, e duas cartas - a primeira que ele lhe escrevera, tão terna! E a última no dia do arrufo! Contou-as... Faltava, com efeito, a primeira, e dois bilhetes! Tinha-lhas roubado, também!... Ergueu-se lívida. Ah, que infame! Veio-lhe uma raiva de subir ao sótão, lutar com ela, arrancar-lhas, esganá-la!... Que lhe importava, por fim! - E deixou-se cair na causeuse, aniquilada. - Que ela tivesse uma, duas, todas - era a mesma desgraça!

E muito excitada, foi preparar o vestido preto que devia levar, o chapéu, um xale-manta...

O cuco cantou dez horas. Entrou então na alcova; pôs o castiçal sobre a mesinha, ficou a olhar o largo leito com o seu cortinado de fustão branco. Era a última vez que ali dormia! Fora ela que bordara aquela coberta de crochê no primeiro ano de casada; não havia um malha que não correspondesse a uma alegria. Jorge às vezes vinha vê-la trabalhar, e, calado, considerava-a com um sorriso, ou falava-lhe baixo enrolando devagar nos dedos o fio de algodão grosso! Ali dormira com ele três anos: o seu lugar era de lá, do lado da parede... Fora naquela cama que ela estivera doente, com a pneumonia. Durante semanas ele não se deitara - a velá-la, a conchegar-lhe a roupa, a dando-lhe os caldos, os remédios, com toda a sorte de palavras doces que lhe faziam tão bem!.





Os capítulos deste livro