O Grande Gatsby - Cap. 4: Capítulo IV Pág. 63 / 173

Esta qualidade ressaltava constantemente da sua convencional maneira de ser sob a forma de irrequietude. Nunca estava completamente parado; havia sempre nele um pé a bater ou uma mão a abrir e a fechar de impaciência.

Viu-me a olhar com admiração para o seu automóvel.

- É lindo, não é, meu velho? - Saltou para fora para me deixar ver melhor. - Ainda não o tinha visto?

Já o tinha visto. Toda a gente o tinha visto. Era de uma cor de creme-vivo, a brilhar de níqueis por todo o lado, cortado aqui e além, no sentido do seu monstruoso comprimento, de triunfais protuberâncias de chapeleiras, lancheiras, caixas de ferramentas e pára-brisas em socalcos labirínticos que reflectiam uma dúzia de sóis. Sentados por detrás de muitas camadas de vidro numa espécie de estufa de couro verde, partimos para a cidade.

Tinha falado com ele talvez uma meia dúzia de vezes, no mês anterior, e descoberto, para meu desapontamento, que ele pouco tinha a dizer. Assim, a minha primeira impressão acerca dele, a de que era uma pessoa de certa categoria social indefinida, tinha-se desvanecido gradualmente e ele tornara-se muito simplesmente o proprietário de uma requintada «estalagem» mesmo ao lado da minha casa.

E veio então este desconcertante passeio. Ainda nós não tínhamos chegado à aldeia de West Egg e já Gatsby começava a deixar inacabadas as suas elegantes frases e a dar palmadas algo indecisas no joelho das calças do seu fato cor de caramelo.

- Olhe cá, meu velho - irrompeu inesperadamente -, afinal qual é a sua opinião a meu respeito?

Um pouco perturbado, dei início à evasivas generalidades que uma pergunta destas merece.

- Bem, vou então contar-lhe alguma coisa da minha vida - interrompeu ele. - Não quero que fique com a impressão errada que forçosamente causam todas as histórias que por aí se contam a meu respeito.





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