As Máscaras do Destino - Cap. 2: O AVIADOR Pág. 6 / 80

O homem está contente. Atira as asas mais ao alto, escalando os cimos infinitos, já fora do mundo, na sensação maravilhosa e embriagadora de um ser que se ultrapassa! Sente-se um deus! As mãos desenclavinham-se, desprendem-se-lhe da terra onde as tem presas um derradeiro fio de oiro... e cai na eternidade.

Tanto azul!... As filhas dos deuses, ondinas, sereias, nereidas, princesas encantadas, acodem todas pressurosas. Há um remoinho de cabeleiras de oiro; os braços são remos de marfim abrindo as águas; trazem nos seios nus a curva doce das ondas, no riso os misteriosos corais das profundidades; arrastam mantos verdes tecidos de algas, como rendas, onde se prendem estrelas; todo o luar prateado que à noite faz fulgir o rio, trazem-no em diadema nos cabelos.

Falam todas a um tempo: Que foi?... Que aconteceu?... e a fala é um arrepio de ondas...

Em volta das asas mortas, são como flores desfolhadas em redor de um esquife negro. E olham...

- É mais um filho dos homens? - pergunta uma, estendendo o braço como uma grinalda de açucenas.

Mas a de cabeleira mais fulva, onde o oiro foi mais pródigo e se aninhou mais vezes, responde num sussurro:

- Não. Não vês que tem asas?

- É então um filho dos deuses? - pergunta outra.

- Não. Não vês que sorri?

E cercam-no, contemplam-no, vão mais perto, quase lhe tocam...

Há um remoinho mais febril nas cabeleiras de oiro; gemem mais fundo, mais melodiosas, as vozes miudinhas, e os mantos, como serpentes, em curvas donairosas, enlaçam-se uns nos outros.

- Tem os cabelos negros como aquele que tombou no mar do Norte...

A de cabeleira mais fulva, onde o oiro foi mais pródigo e se aninhou mais vezes, acerca-se ainda mais... estende o braço a medo... ousa tocar-lhe num gesto mais leve, mais brando que um suspiro.





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