Homenagem à Catalunha - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 174 / 193

O horror básico da vida militar (e quem foi soldado sabe o que quero dizer por horror básico da vida militar) e pouquíssimo afetado pela natureza da guerra em que se esteja lutando. A disciplina, por exemplo, vem finalmente a ser a mesma em todos os exércitos. As ordens tem de ser obedecidas, e postas em vigor mediante castigo, se necessário, e a relação entre oficial e subordinado precisa ser a de superior e inferior. O quadro de guerra apresentado por livros como All Quiet on the Western Front ("Tudo Tranquilo na Frente Ocidental") é verdadeiro, em sua maior substância. As balas doem, cadáveres cheiram mal, muitas vezes os homens submetidos a fogo inimigo ficam com medo a ponto de molharem as calças. É verdade que o ambiente social do qual venha um exercito dá cor a seu treinamento, tática e eficiência geral, e também que a consciência de estar no lado certo fortalece o moral, embora isso afete mais a população civil do que as tropas. (Esquecemos que um soldado em qualquer ponto próximo à linha de frente em geral está com fome, medo ou frio demais, ou então por demais cansado para preocupar-se com as origens políticas da guerra). Mas as leis da natureza não são suspensas para um exercito "vermelho", do mesmo modo como não cessam para um outro que seja "branco". Um piolho é um piolho, uma bomba é uma bomba, ainda que a causa pela qual lutemos seja justa.

Por que vale a pena dizer coisas tão óbvias? Porque a maior parte das classes instruídas, inglesas ou norte-americanas, manifestou-se claramente ignorante disso naquela ocasião, e continuam a sê-lo agora. Nossas memórias mostram-se fracas hoje, mas voltemos atrás um pouco, examinemos os arquivos de New Masses ou Daily Worker, e bastará um olhar à tralha guerreira que nossos esquerdistas empregavam naquela ocasião. Aquelas frases antigas e cediças! A insensibilidade destituída de imaginação em tudo aquilo! O sangue-frio com que Londres soube do bombardeio de Madridd! Não estou dando qualquer atenção aos contrapropagandistas da direita, os Lunns, Garvins et hoc genus, gente que nem merece referencia. Mas ali estavam as mesmas pessoas que, por vinte anos, gritaram e saudaram a "glória" da guerra, agitaram histórias de atrocidades, patriotismo e até a coragem física, saindo-se com palavrório que, com alteração de alguns nomes, podia ser aceito pelo Daily Mail de 1918. Se havia uma coisa com a qual os elementos instruídos, na Inglaterra, estivessem comprometidos, essa era a versão que desmoralizava a guerra, a teoria de que a guerra se compõe de cadáveres e latrinas, e jamais conduz a qualquer resultado aproveitável.





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